Longe























No peito onde a paz pousa agora a cabeça estava há
pouco o murmúrio inquieto do teu nome. Sou um
mapa de vielas juncadas de coisas que não foram
ditas. Gritos por dentro de tudo o que fica depois
do movimento repentino da tua ida. Para longe.

Desarrumada, esta sede, desalinho das curvas
com que chego aos teus olhos fechados, seca-me
os pontos do pensamento. Os ecos que sobram
soltam-se no centro da ternura estonteada, às
voltas, no tornado da tua ida. Para longe.

O chão terminou. Já não há onde caiam a cinza e
os estilhaços. A sombra na parede da voz possível
partiu-se. Não pode ler-se mais.

No peito onde a paz pousa agora a cabeça acaba
de morrer esse dia onde não chegámos a caber.


Lá longe.

in "Relevos", Poética Edições, 2014

3 comentários:

  1. o sereno refluxo das ondas...
    admirável tensão da tua palavra. poética.

    vibração de puro cristal

    beijo

    ResponderEliminar
  2. Buon inizio settimana...ciao.

    ResponderEliminar
  3. Nossa, com que força o longe faz-se perto por poema tão intenso.
    Cadinho RoCo

    ResponderEliminar

Relevos

Poemas simples para corações inteiros