Perdi os braços no alto mar. Os braços e a força de
dizer o vocábulo lume. Perdi até a boca. E perdi
o céu onde a constelação do meu corpo pariu um dia
o fogo das coisas certas.

Abandonei os dedos com todas as palavras que ainda
tinham dentro na onda mais amarga, e ceguei. Perdi
todos os céus. Perdi até o céu dos olhos. E a visão clara
de todos os gestos que um dia valeram a pena.

Perdi os braços no alto mar. Os braços e a força de me arder.
Perdi até o sentido de entender os poemas e a triangulação
das estrelas e a síntese química das pedras. Perdi tudo o que
 em mim foi um dia peito, ar e sangue.

E sou agora um corpo amputado de tudo
o que mais quis.


4 comentários:

  1. pois é, minha amiga

    andas "entretida" a editar outros livros e outros poema e privas os teus amigos do prazer de um novo livro teu.

    és muito generosa, mas quem fica a perder somos nós.

    o poema é admirável, claro.

    beijo

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  2. Concordo em absoluto com tudo o que o Manuel diz, como sabe, pois já tive oportunidade de lho transmitir.

    Mas ontem pareceu-me ter percebido que o próximo livro está quase pronto, o que me deixou muito feliz. :)

    Um beijo

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  3. Todos os rios se perdem

    até se encontrarem
    no mar

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